REDES SOCIAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Redes Sociais na infância e adolescência: Vamos falar sobre esse assunto tão importante e delicado!

Recentemente fiz uma LIVE muito legal com a minha querida irmã, professora Renata Plaza, psicóloga e psicanalista, discutindo o Dilema das Redes, documentário da Netflix muito necessário de assistir e debater com os filhos maiores, que aborda a questão da perigosa influência e impacto das redes sociais em nosso cotidiano e de nossas famílias e como o uso excessivo das redes sociais tem mudado o comportamento impactando na ansiedade, atenção e paciência das crianças e jovens.

 No consultório observo que, desde a mais tenra idade até a adolescência, telefones celulares e Ipads são oferecidos para evitar que jovens e crianças fiquem entediados ou agitados durante a consulta, o que é compreensível. Entretanto cada vez mais bebês são expostos às telinhas de forma precoce e jovens utilizando mais de 8 horas de internet por dia, estando totalmente com a cabeça no mundo virtual, o que não é salutar!

Entendo que estamos vivendo uma nova realidade, a chamada Realidade Virtual, e é importante assumir que ela veio para ficar, pois como bem disse a psicóloga Rosely Sayão as redes são a Praça, a Rua e a Avenida dos jovens.

Portanto, não há como escapar dela, não há razão para proibir o acesso deles a esse novo universo tecnológico, mas podemos aproveitar para orientar os nossos filhos sobre o uso saudável das redes, das inúmeras possibilidades que ela disponibiliza, no que ela traz de bom, mas também o que ela traz de ruim e perigoso e a necessidade de usá-la com cuidado e por poucas horas no dia.

Segundo estatísticas de 2015 publicadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o impacto das redes nos jovens é tão gigantesco e perigoso que num universo de mais de 20 milhões de jovens no Brasil, 37% já observaram discriminação, 21% deixam de comer ou dormir para ficar conectado, 20% já sofreram cyberbullying,10% acessaram conteúdos de autoflagelo, 7% conteúdos de suicídio, 39% tiveram contato com pessoas desconhecidas, sendo que 27% daqueles entre 15 a 17 anos marcaram encontros com essas pessoas e 21% já passaram informações pessoais para estranhos.

Isso me preocupa muitíssimo pois como bem conta o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, vivemos a época da chamada Modernidade Líquida, onde as relações entre as pessoas são frágeis e não sólidas. Se aquela pessoa não te agrada, facilmente pode desconectá-la, excluindo de sua rede de amigos. 

 É também uma grande armadilha, podendo nos levar a permanecer em uma zona de conforto, impactando na diminuição da possibilidade de abertura ao diálogo, debate, questionamentos e construção de relações sólidas.

É preocupante como os modelos de relacionamento estão ficando mais superficiais, deixando de lado o olhar, o afeto, o acolhimento e o diálogo, podendo ter consequências imprevisíveis, com maior chance de danos à construção da identidade das crianças. 

O que era para ser uma coisa boa e foi construída para conectar e aproximar pessoas, do jeito que está sendo usada, acaba por aumentar a divisão e a radicalização, ainda mais com o excesso de exposição a informações mentirosas (Fake News), discursos de ódio, teorias de conspiração e polarização política, não conseguindo conviver, respeitar e debater ideias opostas, sendo que nesse sentido, parece que a tecnologia, quanto mais avança, mais parece nos fazer regredir!!!

Além disso, esse excesso de conteúdo digital provoca uma falta de aprofundamento sobre os assuntos, impactando num baixo conhecimento, onde os jovens de forma imediata recebem conteúdos breves, superficiais e já reagem imediatamente, não se aprofundando no assunto, provocando uma consequente diminuição na capacidade de atenção e concentração, uma vez que despendem pouco tempo as atividades às quais estão se dedicando, agravada por muitas vezes eles estarem fazendo tarefas simultâneas com várias telas abertas ao mesmo tempo.

A paciência também ficou extremamente prejudicada e a necessidade de respostas rápidas, que nos proporcionam o chamado prazer imediato e a baixa tolerância ao que não nos é respondido imediatamente, fez diminuir muito a nossa paciência e consequentemente a tolerância a qualquer tipo de erro. 

Ai fica a pergunta, será que os jovens e mesmo nós adultos não estamos escravos das redes sociais e já estabelecemos uma relação de dependência e grande ansiedade de saber tudo o que há de novo nas redes em relação ao que postamos ou que os colegas acharam (o perigoso mundo dos likes e dislikes), levando a graus elevados de ansiedade e em determinadas situações tristeza, depressão e distorção da própria imagem?

Mas então, tudo está perdido? Claro que não.

Sou maravilhado com a tecnologia, adoro utilizá-la, aproveitar todos os benefícios que ela traz, tudo que ela conseguiu proporcionar de entretenimento, diversão e muitas outras coisas boas, como pudemos observar nessa triste pandemia, situação em que as redes permitiram a aproximação de pessoas distantes, familiares com seus avós, que por serem grupos de risco, estão mais isolados e solitários e também amigos antigos que moram em outros estados do Brasil ou em diferentes locais desse mundão, além de uma forte corrente de ajuda financeira e alimentar aos mais pobres e necessitados que mais sofrem na maior pandemia que acometeu a humanidade desde a chamada gripe espanhola ocorrida há 102 anos! 

Tantos conteúdos ótimos, museus interativos, enciclopédias virtuais fantásticas, debates e aulas no YouTube, TEDS maravilhosos, possibilidades inúmeras de aprendizado na música, comunicação, diferentes idiomas, receitas gastronômicas, conteúdos de todas as áreas da ciência, acesso a filmes, séries e documentários altamente recomendados, gratuitos ou mesmo oferecidos pelas plataformas de Streaming, além de um universo infindável de músicas a preços acessíveis. Enfim, inúmeras e maravilhosas possibilidades.

O problema não são as ferramentas tecnológicas disponíveis e sim como as interpretamos e de que forma nós a utilizamos.

Há como utilizá-las de modo saudável, em nosso favor e de nossos filhos, sem tolher a individualidade deles e a distração que lhes proporcionam as diferentes formas de aplicativos que tanto curtem. Orientá-los com muita calma, sem os amedrontar, alertá-los dos perigos e armadilhas que as redes também podem provocar se usadas de maneira inadequada e excessiva, procurando deixá-los menos ansiosos e não extremamente dependentes (cyber sensitivos).

Então aqui vão algumas dicas para o uso racional das ferramentas tecnológicas pelas crianças e por que não dizer por nós mesmos.

Ter um controle frente aos inúmeros conteúdos e possibilidades de se obter informação na internet e ao que as crianças acessam no mundo virtual. Checar quais sites visitam, com quem costumam conversar nas redes sociais e de que tipo de jogo os jovens participam, se há violência ou conteúdo impróprio nesses jogos e quais pessoas interagem durante essa brincadeira virtual. Explicar que é um ambiente que pode ser muito perigoso, pessoas podem se passar por outras, solicitar informações, que podem ser utilizadas de maneira indevida como fotos, vídeos compartilhados, podendo furtar informações pessoais, identidade, invadir sua privacidade e podem provocar danos à sua reputação

Para isso, existem estratégias necessárias que podemos utilizar como a instalação de antivírus, filtros que bloqueiem o acesso a determinados conteúdos impróprios (antispam, antimalware, softwares para esse propósito) ou não aconselhados. Mesmo assim é muito importante o acompanhamento, diálogo e a orientação sobre esses riscos.

Para todas as idades: nada de telas (televisão, celular ou computador) durante as refeições.

Sobre limites do uso diário a Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que crianças até 2 anos não acessem as telinhas. De 2 a 6 anos uma hora por dia e após essa idade 2 horas por dia. Ideal é não deixar televisão ou mesmo o celular nos quartos, principalmente dos adolescentes, desconectando os aparelhos uma ou duas horas antes de dormir, lembrando que uma boa noite de sono é essencial para o crescimento, saúde mental e física.

Quantos aos jogos digitais, além de limitar o tempo de utilização e saber qual o tipo de jogo, temos de entender que eles são diferentes de brincar, pois a brincadeira é uma atividade lúdica que permite a favorece a elaboração, a criatividade, estimula a imaginação e permite construir e desenvolver nos pequenos recursos psíquicos para lidar com as próprias angustias. Evitar os jogos violentos, não expor as crianças à violência digital, joguinhos que estimulam o uso das armas de matar inimigos ganhando pontos de recompensa, pois eles podem ser perigosíssimos, banalizam a violência, aumentam a cultura do ódio, intolerância, não expõem o sofrimento e dor das vítimas, sendo que muitas dessas crianças não conseguem separar a fantasia da realidade. Além de limitar o tempo de poder jogar, é muito importante que você brinque com seu filho, estimule brincadeiras, se divertir ao ar livre e estar em contato com a natureza. 

Aprender e ensinar a bloquear mensagens ofensivas, propagadoras de ódio e intolerância ou vídeos com conteúdos sexuais inapropriados.

Ensinar a importância de bons valores para uma vida saudável, e construtiva. Há tantos sites de ajuda na internet, ativamente colaborando com as famílias mais carentes e que sofrem de abandono e pobreza agravados pela pandemia, sempre explicando como é importante que tenhamos, desde pequenos, valores éticos para que nunca postem mensagens ofensivas, desrespeitosas, discriminativas, machistas, segregatórias de intolerância ou ódio.

Mostrar como é bom se desconectar das redes, tanto adultos quanto crianças, e aumentar o diálogo e convívio familiar nos finais de semana, procurar interagir, brincar, participar da vida de seus filhos, dividir momentos de prazer sem a tecnologia e sim com afeto e alegria.

Quando utilizar os meios eletrônicos, procurar conteúdos com os quais a criança aprenda, reflita, divirta-se, e que não provoque aumento da ansiedade e/ou diminuição da autoestima.

Os pais devem aprender mais sobre a internet, suas oportunidades e perigos, ler sobre os assuntos, trocar ideias com outros pais, professores, visitar sites e blogs relacionados aos Apps, jogos e tudo que atrai os jovens nesse ambiente. Jamais acreditar que estão 100% seguros navegando sozinhos pelo mundo digital e procurar saber quem são os seus amigos virtuais, estabelecer regras cumpríveis e que respeitem a classificação indicativa dos jogos, Apps e redes sociais e alertar para que não conversem com estranhos nessas redes.

Cuidado com as notícias falsas (Fake News), as redes às vezes passam mentiras, informações falsas, com segundos interesses que, de acordo com estudo realizado no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), espalham-se seis vezes mais que as notícias verdadeiras. Devemos ensiná-los a não acreditar em tudo que recebem, nunca repassar informações polêmicas sem se aprofundar e conhecer as fontes.

Desativar as notificações, que muitas vezes fazem consultar o celular a cada 10 minutos, gerando muita dopamina (relacionada à sensação de prazer) e que reforça esse comportamento repetitivo. 

Enfim, a internet e as diferentes plataformas da web são maravilhosas, e nossos jovens nasceram e vivem nessa realidade, nesse novo mundo. Deixemos que eles curtam, mas de forma salutar e consciente e também mostremos na prática as maravilhosas possibilidades de interações proporcionadas pelo relacionamento humano do mundo real, aproveitando o melhor desses dois mundos!

Desejo a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, com muita Saúde, Paz, Amor e Interação e que 2021 há de ser muito melhor que 2020! Abraços a todos, até o próximo texto e aproveito para deixar abaixo algumas outras dicas de filmes e séries que abordam esse assunto:

Privacidade Hackeada

A Rede Social

Confiar

Série Black Mirror

Gaming Disorder

Gaming Disorder:  O que é, seu impacto e consequências em crianças e adolescentes.

A IMPORTÂNCIA DE VACINAR SEU FILHO

Dados significativamente preocupantes foram revelados neste ano em relação a cobertura vacinal no Brasil. Frente ao medo da epidemia do covid-19, a baixa percepção da população sobre o risco de poder contrair doenças que já haviam sido erradicadas, a falta de algumas vacinas que são disponibilizadas gratuitamente no SUS e a uma difusão extremamente equivocada realizada pelos movimentos antivacinas, incentivando a não vacinação das crianças , o Brasil atingiu a pior série histórica de cobertura vacinal em 20 anos para vacinas importantíssimas como as que protegem como doenças graves como tuberculose (57,4 % dos recém nascidos imunizados)e poliomielite (59,5%). Outras 7 vacinas tiveram o menor índice de procura para imunização em 7 anos. O Brasil tem uma das melhores coberturas vacinais do mundo e, infelizmente, voltamos a ter doenças que eram consideradas erradicadas no país, como surtos de sarampo (10.000 casos em 2019 somente no estado de SP), aumento da incidência de meningite pelo meningocócica W no sul do Brasil, entre outras. E mesmo com as campanhas alertando para a importância de se vacinar contra sarampo frente ao aumento de casos da doença, somente 60% das crianças receberam a proteção com a vacina tríplice viral. Isso é chocante e muito preocupante. Tivemos epidemias gravíssimas por meningite meningocócica do tipo A e C nos anos 70 e com a introdução da obrigatoriedade da imunizações contra a bactéria Haemophilus influenzae inserida gratuitamente no calendário vacinal no final dos anos 90, a incidência da meningite grave, pneumonias e de outras infecções causadas por esse micro-organismo diminuiu drasticamente. Com a menor taxa de imunização, corremos o risco de ter a volta de outras doenças virais graves, como a poliomielite, que pode provocar sequelas definitivas gravíssimas, tais como, paralisias dos membros inferiores, atrofias musculares, além de outros quadros neurológicos. Houve uma grande incidência de casos de poliomielite principalmente nos anos 70, com surto de mais de 3590 casos em 1975, sendo que mais de 26.000 crianças foram diagnosticadas entre de 1968 até 1989. Graças às campanhas de vacinação e incorporação das vacinas Sabin e depois VIP no calendário vacinal anual, o poliovírus foi erradicado no país desde o final dos anos 80. Mas o que leva a acontecer os movimentos antivacinas e o crescimento deles? Embora todas pesquisas e os dados comprovados pela ciência e medicina nos últimos 50 anos demonstrem a eficácia e segurança das vacinas, existe uma proliferação de conteúdos imprecisos e enganosos que se espalham pelas redes on line. Como frequentemente os pais recorrem cada vez mais a internet e as mídias sociais para obter informações e formar opiniões e conclusões sobre a saúde de seus filhos, as consequências dessas informações imprecisas e não científicas acabam reverberando off-line no cotidiano dessas famílias. Esses websites (infelizmente mais de 500), ganham dinheiro vendendo falsos remédios e são impulsionados pelas redes sociais que propagam fakenews absurdas e mentirosas, como por exemplo a associação das vacinas como agentes desencadeadores de autismo, o que é uma barbaridade descomunal. Recentemente o ascendente movimento antivacinação foi incluído pela Organização Mundial da Saúde como um dos 10 maiores riscos a saúde global, que em seu relatório descreveu-o como ameaça tão grave quanto alguns vírus que aparecem na lista, como o Coronavírus; sendo que esse movimento se constitui numa ameaça definitiva capaz de reverter e prejudicar o progresso alvissareiro conquistado no combate a doenças plenamente evitáveis com a correta vacinação, como nos casos da poliomielite, sarampo, hepatite B, tuberculose, entre tantas outras. Esses ativistas antivacinas (anti-vaxxers) devem ser enfrentados e todos os profissionais de saúde, agentes sanitários, governos municipais, estaduais e o próprio governo federal devem se opor à grave ameaça que esse movimento representa para a saúde de todas as crianças. Por fim a vacinação é uma das formas mais eficientes para impedir o aparecimento ou reaparecimento de doenças virais e bacterianas, evitando anualmente mais de 3 milhões de mortes, sendo que outras 1,5 milhões poderiam ser evitadas se a cobertura vacinal pudesse ser melhorada. Por isso pais, lembrem que não obstante estejamos assustados com a epidemia da covid-19, as outras doenças também estão acontecendo e podem ser preveníveis pela correta vacinação e visita periódica ao pediatra ou clínico. Todos juntos pela defesa da vacinação e contra o absurdo desse movimento antivacinas, pois assim estaremos defendendo as vidas de nossas crianças. Dr. Roberto Plaza. 05 de Outubro de 2020